domingo, 20 de março de 2011

Violência feminina na escola: aonde queremos chegar?



Sei que a ideia deste Blog é trabalhar com as questões da arte, e parece ser que este assunto se restringiria as aulas...Mas há mais do que isso, para aqueles que trabalhamos com artes e educação.
Afinal, de que adianta fala de El Grecco ou da arte paleolítica, se não olhamos para fora desses assuntos académicos e sentamos a conversar e ver o que passa entre os estudantes?
Nesta semana, três fatos me deixaram incomodado, preocupado, entristecido.
No primeiro, um grupo de meninas-adolescentes, da 5ª série de uma das escolas que trabalho tiveram um "ataque coletivo" de grosseria e durante dois períodos fizeram questão de ser o tema central de minha aula, em detrimento dos outros alunos da mesma turma, que, cabisbaixos, se limitaram a ouvir as reclamações e as cobranças daqueles que estamos ali para ajudá-los a tecer um futuro diferente.
Meninas-adolescente, pois a maioria já abandonou os inocentes campos da infância para brincar com sua aparência de adolescentes, mas reagem e se comportam como crianças grandes. Nada seria tão trágico se junto a sua revolta injustificada não se juntasse um nível de baixaria verbal, de palavrões, de agressões e ameaças. Conheço as ruas, e olha, nem nos lugares menos recomendados a quem teme a crueza das vida noturna escutei tantos palavrões.
Noutro dia da mesma semana, duas adolescentes "mais velhas" de outra escola se engalfinharam no primeiro período de aula do dia, e brigaram corredor afora, deixando um colchão de cabelos pelo piso das salas e corredores, ao ponto tal de que no livro de atas da escola estão colados, com fita durex, duas mechas de cabelo como prova da "batalha" ali travada.
Em outra turma, outras meninas-adolescentes, de quase a mesma idade, me mostraram orgulhosas sua "obra de arte": tatuagens feitas nos pulsos com a lâmina do apontador, que espertamente tiravam com a frágil tesourinha de ponta arredondada. No braço, seus nomes tatuados como o faziam os marujos ou os presidiários...Nada de delicadas imagens, nada de "tribais" nas costas, nada de fadas ou borboletas: seu nome cru, com letras retangulares.
Fiquei pensando por que isso, de onde vem isso, quem lhe disse que essa atitude era a "certa", que elas sabem não ser a correta? O que ganham com isso? Aonde querem chegar?
A resposta é simples: a nenhum lugar. Querem congelar-se no tempo e no espaço, e afirmar que esse é seu máximo passo aonde podem chegar: a sala de aula de uma escola pública.
Se comportando como "homens", ou seja, o estereótipo de homem que elas reconhecem como tal, insultam, brigam, ameaçam, são obscenas, são quase "perigosas"...
O que consideramos "temas" que originam essas situações, não são a "revolta" com a escola, ou a "briga" por namorados: há um latente chamado de atenção à sociedade. Essas meninas-adolescentes não visualizam seu futuro, não podem ter sonhos, não conseguem pensar além daquilo que hoje são.
Num país em que a mulher começa a galgar seu reconhecido espaço, onde temos uma presidente mulher, onde já tivemos governadora e prefeita mulheres, onde a maioria das vagas da Universidade são ocupadas por mulheres, estas meninas-adolescentes ainda vagam num limbo que lhes nega o futuro.
As meninas-adolescentes são capazes de agredir, de insultar, de discutir, de discriminar, de bater, de brigar, de atirar objetos, de ter rancor e ranço. Mas são incapazes de sonhar.

E então, querendo ser as "Meninas Super Poderosas", se tornam verdadeiras vítimas da própria violência da qual elas fazem parte.
A meus colegas professores, um alerta: vamos pensar e falar sobre isto.
A meus alunos e em especial as gurias: vamos mudar isto!!! Nada de "lição de moral": nada é mais "poderoso" do que um sonho que torna realidade. Então, vamos sonhar coisas diferentes?
 Boa semana!!!
 

Um comentário:

  1. Alejandro, adorei a sua página!
    Esta realidade nua e crua me faz refletir como será este futuro com essas "crianças", se hoje elas não desfrutam da "infância" e se vestem de "adolescentes rebeldes" precocemente... eu passo por isto todos os dias... é muito triste!
    Sou educadora em artes, como você, e estou quase enlouquecendo com o Currículo Mínimo!!!
    O conteúdo em artes é grande, é necessário trabalhar cada estilo e seus artistas mais importantes.. e me diga? como vou adequar tudo isto mais os conteúdos de dança, teatro e música(na sua totalidade) em dois tempos de aula de uma escola pública?

    ResponderExcluir